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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"Olhar tático: Futebol brasileiro: professor ou aluno?" - Coluna do FC Gols


Hoje a Seleção Brasileira terá seu primeiro desafio em 2012 contra a Bósnia. O adversário, sinceramente, não é de fazer medo, mas o futebol da Seleção é. Apesar, de Mano Menezes dizer que o balanço de 2011 foi positivo eu não me contento com isso.

Quando Dunga era o técnico, a Seleção não mostrou um grande futebol, mas teve um rendimento bem melhor que Mano Menezes tem tido. O time de Dunga jogava num 4-3-1-2/4-3-2-1/4-2-3-1 (essa dinâmica ocorria com o avanço de Elano e recuo de Robinho pela direita e esquerda, respectivamente). Mas aquele time era pouquíssimo inovador e não tinha a força para dar aula de futebol. A escola brasileira vinha em decadência desde 2006 (ou 2002), mas a partir de 2010 foi que a trágica situação se expôs.

A chega de Mano Menezes deixou à tona a proposta de futebol bonito! Recuperar a mágica que, outrora, o Brasil tivera. Não foi o que eu vi. O Brasil não é uma escola de futebol. Não é mais o professor que ditava o futebol pelo mundo. É decadência! Olhando taticamente encontramos falhas que fazem parte dessa decadência. 

Melhor atuação do Brasil em 2011: Argentina e México sofreram com essa tática. Algumas mudanças  na escalação mas a tática é próxima a essa (contra a Argentina o setor defensivo só tinha jogadores que atuavam no Brasil). Um Brasil de laterais ofensivos, volantes marcadores e quatro atacantes na frente (Ronaldinho mais atrás na armação).

Bom time, mas não suficiente. Amanhã Hernanes deve assumir a vaga de Ronaldinho que abre na esquerda enquanto Neymar fica pela direita. O resto será igual. Sabemos que com o Hernanes no meio teremos um quarteto, mas não de quatro atacantes necessariamente já que o ex-São Paulo é um armador propriamente dito. Mas quais sãos os erros?  

Fernandinho não me convence, Daniel Alves já não é tão lateral e a saída de bola não é a mesma coisa. Falta Brasil nisso aí! Qual é a escola do futebol mundial no momento? Espanha recheada de Barcelona! O clube, por sinal, já é maior referência que a seleção (porque é superior)! Por que o Brasil não aceita isso e se torna um bom aluno? Está na hora de aprender com quem ensina!

Como o Barça joga? No momento, em um 3-4-3 em que Messi se põe como um 'falso-nove' e tem total liberdade para armar, atacar e brilhar! Busquets e os zagueiros começam a saída de bola que chega em Xavi e Iniesta para fazerem a bola circular (especialmente o camisa 6). A partir daí as opções são inúmeras por causa da intensa movimentação.

O padrão tático do Barcelona atualmente, considerando Fàbregas e Villa como titulares.

É possível o Brasil aprender com o Barcelona? Taticamente falando é possível. Se considerarmos um 4-3-3 (o Barcelona usa um 3-4-3 porque Daniel é um ala/meia/atacante e Abidal um terceiro zagueiro, mas como o Brasil não possui um lateral de tal característica um 4-3-3 seria mais viável) com um atacante tendo liberdade para se movimentar teríamos algo próximo ao time azul-grená.

Um 4-3-3 próximo ao do Barcelona, mas com laterais equilibrando ataque e defesa e não se firmando em apenas uma das funções. No meio de campo Sandro/Rômulo ficaria atrás, Hernanes e Ramires/Anderson seriam as opções para as vagas de volantes/meias. O time teria saída de bola e um esquema ofensivo potente, mas estaria pondo em prática a escola Catalã?

Esse questionamento é que o Brasil. Eu até imagino que se o Ronaldinho se prepara mais em finalização (especialmente de cabeça) e usa seu passe privilegiado, o Brasil funciona. Daniel Alves poderia fazer melhor que Lucas na direita, também. O que quero dizer é que taticamente o aprendizado dessa forma é ótimo! Mas será que o Barcelona só ensina o Brasil a jogar com volantes/meias e um 'falso-nove'?

Não! O Barcelona tem como prioridade no seu estilo de jogo três pontos: 1) Movimentação; 2) Posse e toque de bola; 3) Marcação por pressão. Esses três pontos fazem do Barcelona um time ofensivo. Ninguém tem posição fixa, a bola está sempre no pé trabalhando o jogo pacientemente e a marcação não dá espaço ao adversário! A formação que eu pus acima é boa, mas precisa desses pontos. Vamos aprender Brasil!

Existem outras formações que trabalhariam bem esse lado. Um 3-5-2/3-4-1-2 poderia dar certo. Um "4-4-2 inglês" também. Mas tudo dependerá da proposta. Por exemplo. Um esquema de três volantes dará certo se a proposta for ofensiva. Hernanes seria fundamental nisso. Hoje em dia é muito mais um meia que um volante, mas pode recuar um pouco e fazer as duas funções. Tudo isso são exemplos. Deixem-me mostrar alguns:

Brasil posicionado taticamente em um 4-4-2: linha de quatro com laterais que equilibram a marcação com a ofensividade; um volante de marcação (Rômulo/Sandro/Lucas Leiva) e um "box-to-box" (termo britânico que caracteriza um meia central que ajuda na marcação, mas joga pra frente) que seria a chave para a saída de bola; dois meias  abertos (Daniel e Lucas brigariam pela direita enquanto Oscar ficaria na esquerda entrando no meio para armar) e dois atacantes (Neymar com total liberdade desequilibrando e Damião como referência)!

Apesar de muitos não verem isso o 4-4-2 ainda é uma formação válida. Isso é provado pelos times de Manchester que usaram 2011 para brilhar com esse esquema tático. O Brasil pode se espelhar com a formação acima. O time teria marcação, ofensividade e (com a filosofia implantada) toque de bola. 

Quando eu falei sobre implantar a filosofia de "dono da bola" temos que rever algumas coisas. A Espanha tem tal força porque essa filosofia se arraigou no Barcelona e, consequentemente, deu força ao futebol espanhol. Tal filosofia não surgirá em dois anos e meio para o Brasil recuperar o trono em 2014, mas pode ser trabalhar por Mano Menezes na seleção desde já.

Inovação futebolística tem total relação com categorias de base. O Barcelona também ensina isso. A inovação começa quando a filosofia é ensinada desde as categorias de base, dez anos antes de chegar ao time principal. Isso não será possível em dois anos. Essa mistura entre categorias de base e inovação filosófica não vai acontecer! Deve sim, ser implantada aos poucos nas categorias de base dos clubes, mas isso não tem acontecido. Também não quer dizer que o Brasil não revele mais. Neymar, pilar da seleção, é um jovem ainda que há pouquíssimo tempo era uma revelação, por exemplo. 

A prova disso foi na Copa do Mundo Sub-20 do ano passado quando o Brasil foi campeão com um grupo, na minha opinião, fraco, mas mesmo assim era dinâmico e objetivo. 

Contra a Espanha, Ney Franco deu um "nó tático" e armou o time em um 3-4-3/3-4-2-1 que travou a forte Espanha.

Qual lição tiramos daí? Primeiro, eu notei que a zaga ficou firme. O outro ponto foi que os volantes/meias ficaram livres para sair (Danilo especialmente). Imagino que isso possa ser usado na Seleção com algumas adaptações. 

O time ficaria entre 3-5-2 e um 3/4-1-2. Tudo isso por causa de Oscar (grande nome do Brasil no mundial, mas que não havia sido utilizado nesse mesmo esquema), aperfeiçoando assim aquele time. O sistema defensivo seria forte: linha de três zagueiros e volante de contenção para proteger. Assim o Hernanes fica mais livre para ajudar na saída de bola e os alas jogam abertos com poucas ações defensivas e Oscar (ou Ganso se voltar a jogar) fica na armação chegando como um terceiro atacante.

Se vocês perceberam, continuo priorizando o Hernanes na saída de bola. Tudo isso vem da escola Catalã. Xavi trabalha como um volante/meia que é útil na saída de bola e no início da criação. Também ponho laterais com melhor poder de marcação para pressionar a saída de bola adversária. Todas essas coisas fazem parte do futebol, outrora, brasileiro que hoje a Espanha tomou posse.

Como assim "tomou posse"? Simples. A Espanha, como Guardiola muito bem colocou após a arrasadora vitória do Barcelona sobre o Santos no Mundial de Clubes, aprendeu. Não tinha essa força e aprendeu como o fazer. O Brasil que já havia dado algumas aulas à Espanha deve começar a aprender.

A proposta de Mano é boa, mas ainda não tem sido suficiente. O Brasil já não ensina mais e pra restabelecer essa licenciatura precisa se graduar novamente e isso só prestando atenção às lições dos professores.

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